8 de mar. de 2019


Silêncio na biblioteca: necessidade ou tradição? 
Estudo de caso na Biblioteca Setorial do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual de Londrina (BS/CCS).



Rosângela de Cássia Dias
Bacharel em Biblioteconomia, Especialista em Gestão Pública (IFPR), Especialista em Gestão de Bibliotecas Universitárias (UEL), Técnica de Biblioteca (BS/CCS).

Introdução
Silêncio na biblioteca: necessidade ou tradição?  Atualmente, muito se tem debatido a maneira como os acadêmicos utilizam os espaços físicos da biblioteca. É comum e salutar as conversas entre grupos de discentes no ambiente informacional. Entretanto, é de conhecimento que a biblioteca é local tradicionalmente conhecido como um ambiente que requer um comportamento adequado, ou seja, ambiente calmo, silencioso, onde seus usuários possam se concentrar na leitura e no estudo a que se propõem.
O silêncio nas unidades de informação também é importante para a saúde ocupacional dos trabalhadores que ali laboram e para os usuários que ali permanecem estudando. “O controle de ruído tem se tornado um importante segmento da Engenharia Acústica devido às evidências, cada vez mais concretas, dos efeitos negativos do ruído à saúde e ao bem estar do ser humano”. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, 2014, p.1). Assim, os ruídos no interior das bibliotecas são prejudiciais à saúde e são provenientes daqueles que desrespeitam o silêncio.
Entretanto, percebemos que a realidade de uma biblioteca silenciosa está se modificando. Segundo Morigi e Souto (2005, p.1) “no presente coexistem resquícios da visão tradicional de biblioteca com as novas formas que elas estão assumindo.”
A literatura a respeito desse tema para bibliotecas públicas universitárias é escassa. Assim, o objetivo desse artigo é relatar o estudo realizado dentro da biblioteca setorial do CCS sobre o tema, e entender o comportamento dos usuários, identificando os fatores desencadeadores de ruídos neste ambiente, o comportamento dos usuários em relação aos possíveis ruídos encontrados, avaliar as reais necessidades dos discentes dentro da unidade de informação e promover ações que possam minimizar os eventuais conflitos apontados neste estudo.

Resultados
O presente trabalho utilizou a abordagem quantitativa com aplicação de questionário, que continha cinco questões de múltipla escolha e uma aberta, aplicado na biblioteca nos intervalos de aula. Foram distribuídos 200 questionários para os alunos dos cursos de medicina, enfermagem, farmácia e fisioterapia, com retorno de 175 respondentes, e 25 questionários devolvidos em branco.
Os resultados encontrados quando se perguntou com que regularidade os discentes frequentam a biblioteca com a finalidade de estudar: os discentes do curso de medicina, de 68 respondentes, 77,94% disseram que frequentam com finalidade de estudo e 22,06 % relataram que não usam a biblioteca para esta finalidade. Os discentes do curso de enfermagem, de 47 respondentes, 91,49% disseram que sim e 8,51 que não. Os discentes do curso de fisioterapia, 92,16% relataram que sim e 7,84% que não. Os discentes do curso de farmácia, 94,12% disseram que sim e 5,88% que não.
Dos 175 discentes que disseram frequentar a biblioteca com a finalidade de estudo, 92% disseram que o barulho atrapalha a concentração dos estudos e 8% disseram que não.
Com respeito à insatisfação dos usuários em relação aos ruídos na biblioteca, os resultados mostram que em primeiro lugar foi apontado pelos discentes a conversa paralela no ambiente da biblioteca, com 38,46% (medicina), 21,54% (enfermagem), 27,69% (fisioterapia) e 12,31% (farmácia). Em segundo lugar foi apontado haver falta de cultura de silêncio dentro da biblioteca, com 16,33% (medicina) 22,45 % (enfermagem), 36,73 (fisioterapia) e 24,49% (farmácia). Em terceiro lugar foi citado a instalação da reprografia dentro da biblioteca por 23,53% (medicina) 35,29% (enfermagem), 11,76% (fisioterapia) e 29,41% (farmácia) como sendo o deflagrador de ruído no ambiente.  Em quarto lugar foram apontados os ruídos internos (catraca, telefone, dentre outros) com 71,43% (medicina), 14,29% (enfermagem.) e 14,29% (fisioterapia). Em quinto lugar foi apontado a acústica arquitetônica do prédio da biblioteca como sendo desfavorável, pois percebe-se que existe eco nas falas, aumentando consideravelmente o ruído neste espaço, assim os percentuais são: de 33,33% (medicina), 16,37% (enfermagem) e 50 % (fisioterapia).
Alguns fatores foram citados pelos usuários respondentes que utilizam alguns mecanismos para favorecer os estudos, mesmo em ambiente considerado desfavorável. Entre esses mecanismos estão os relacionados, em primeiro lugar, com 28,57% dos respondentes, a capacidade de concentração total nos estudos mesmo em ambientes barulhentos. Em segundo lugar, com 25%, a utilização de fone de ouvido que viabiliza o estudo dentro da biblioteca, pois desliga o usuário dos ruídos a sua volta. Em terceiro lugar, com 66,67% dos respondentes, a utilização da biblioteca em horários de menor movimento, geralmente fora do horário de intervalos de aula.
Em relação à sugestão, dos 161 respondentes que relataram que o barulho atrapalha, 41 não deixaram sugestões. As 120 sugestões relatadas estão demonstradas na tabela abaixo:

Tabela 1 - Sugestões para melhorar o ambiente de estudo da biblioteca
Sugestões
Medicina
Enfermagem
Fisioterapia
Farmácia
Total
Retirar a instalação do xerox de dentro da biblioteca
15
16
13
4
48
Promover medidas educativas para diminuir as conversas paralelas no ambiente da biblioteca
15
12
07
2
36
Criar mecanismos de punição para coibir as conversas dentro da biblioteca
13
6
2
3
24
Outras (diminuir ruídos dos telefones, catracas, estacionamento etc...)
5
2
2
3
12
Total
48
36
24
12
120
Fonte: A Autora.

Considerações Finais
Os resultados deste estudo mostram que o silêncio na biblioteca continua sendo uma necessidade e não apenas uma tradição datada dos primórdios, onde a biblioteca era um local de absoluto silêncio.  Assim, é preciso manter um espaço silencioso e calmo, onde haja lugar para usuários que necessitam concentração e silêncio para estudar. Porém, ficou comprovado também que os espaços de interação entre usuários são importantes, tanto quanto, para os que precisam de silêncio como para os que necessitam da interação como troca no processo de aprendizagem, só que com novos parâmetros.
É evidente que atualmente os ambientes informacionais se modernizaram, acompanharam a evolução, a adaptação aos novos moldes de ensino e de transferência da informação, haja vista, os diversos mecanismos existentes nestes ambientes (midiáticos, virtuais, digitais, híbridos, dentre outros). Porém, seus espaços precisam ser reavaliados; se queremos que os discentes frequentem a biblioteca, é preciso prepará-los para isso.
Destacou-se também neste estudo o excessivo ruído dentro da biblioteca. Preocupante quando 92% dos entrevistados disseram que o barulho atrapalha a concentração nos estudos. Desse modo, é importante contextualizar a satisfação do usuário dentro do espaço da biblioteca, onde os mesmos manifestaram interesse em retirar a  fotocopiadora de dentro da biblioteca, demonstrando assim, que tão importante quanto os serviços e produtos oferecidos, são a aquisição de materiais de informação, recursos tecnológicos e informatizados, espaços adequados para estudos e ambiente para interação com seus pares, mas acima de tudo, está em destaque o desejo de um ambiente saudável para estudo e leituras para suas atividades em sua formação estudantil. Assim, entende-se que a biblioteca universitária necessita de espaço para tornar-se ambiente propício a colaborar na aprendizagem do estudante universitário.
Conclui-se que a construção e/ou adaptação de espaços informacionais deve ser um espaço dinâmico, propício a satisfazer as necessidades dos discentes como um todo. Um ambiente inclusivo, propício à convivência entre diferentes classes sociais e grupos diversos, um espaço democrático, que possibilite o acesso livre à informação, tanto por meios tradicionais, como por meios tecnológicos e contemporâneos, favorecendo a autonomia dos alunos, respeitando sua maneira de frequentar o ambiente da biblioteca, promovendo assim sua participação e aprendizagem nos espaços físicos das bibliotecas universitárias públicas brasileiras.

REFERÊNCIAS

MORIGI, V. J.; SOUTO, L. R. Entre o passado e o presente: as visões de biblioteca no mundo contemporâneo. REV. ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v.10, n. 2, p.189-206, jan./dez. 2005. Disponível em: http://revista.acbsc.org.br/racb/article/view/ 432/551. Acesso em: 17 out. 2014.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA. A engenharia acústica. 2014. Disponível em: http://www.eac.ufsm.br/home. Acesso em: 9 set. 2014.


5 comentários:

  1. Muito interessante o artigo. Acredito ser importante chamar atenção para esse tema e incentivar a manutenção do silêncio dentro da biblioteca. Como o próprio artigo mostra, o silêncio é quase que essencial para o estudo. Se a universidade não tem condições de proporcionar espaços de interação para os alunos dentro da biblioteca, o que seria ideal, é necessário que haja outros espaços na universidade para isso, desde que, a biblioteca continue sendo um ambiente capaz de oferecer aos estudantes, professores e funcionários, um lugar moderno e dedicado para seus estudos e trabalho.

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  3. Eu gostei do artigo, sugeriria que a pesquisa fosse feita com discentes de diferentes áreas do conhecimento a não ser da área da saúde, tipo tecnologia, design, artes, historia e matemática
    dessa forma poderia se ter outros dados relevantes, mas vejo o esforço na pesquisa.
    Destaco. "Conclui-se que a construção e/ou adaptação de espaços informacionais deve ser um espaço dinâmico, propício a satisfazer as necessidades dos discentes como um todo." e concordo com a complexabilidade da de necessidades fisico-construtivas da biblioteca.

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  4. Muito interessante o artigo, principalmente no que remete à arquitetura sobre a necessidade de projetar-se espaços adequados às diversas atividades desenvolvidas dentro da biblioteca e também em relação a acústica tanto dos materiais empregados na construção do edifício quanto aos aplicados no mobiliário.

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