Silêncio na
biblioteca: necessidade ou tradição?
Estudo de caso na Biblioteca Setorial
do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual de Londrina (BS/CCS).
Rosângela de Cássia
Dias
Introdução
Silêncio
na biblioteca: necessidade ou tradição?
Atualmente, muito se tem debatido a maneira como os acadêmicos utilizam
os espaços físicos da biblioteca. É comum e salutar as conversas entre grupos
de discentes no ambiente informacional. Entretanto, é de conhecimento que a
biblioteca é local tradicionalmente conhecido como um ambiente que requer um
comportamento adequado, ou seja, ambiente calmo, silencioso, onde seus usuários
possam se concentrar na leitura e no estudo a que se propõem.
O silêncio nas unidades de
informação também é importante para a saúde ocupacional dos trabalhadores que
ali laboram e para os usuários que ali permanecem estudando. “O controle de
ruído tem se tornado um importante segmento da Engenharia Acústica devido às
evidências, cada vez mais concretas, dos efeitos negativos do ruído à saúde e
ao bem estar do ser humano”. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, 2014, p.1). Assim,
os ruídos no interior das bibliotecas são prejudiciais à saúde e são
provenientes daqueles que desrespeitam o silêncio.
Entretanto, percebemos que a realidade de uma
biblioteca silenciosa está se modificando. Segundo Morigi e Souto (2005, p.1)
“no presente coexistem resquícios da visão tradicional de biblioteca com as
novas formas que elas estão assumindo.”
A literatura a respeito desse
tema para bibliotecas públicas universitárias é escassa. Assim, o objetivo
desse artigo é relatar o estudo realizado dentro da biblioteca setorial do CCS
sobre o tema, e entender o comportamento dos usuários, identificando os fatores
desencadeadores de ruídos neste ambiente, o comportamento dos usuários em
relação aos possíveis ruídos encontrados, avaliar as reais necessidades dos
discentes dentro da unidade de informação e promover ações que possam minimizar
os eventuais conflitos apontados neste estudo.
Resultados
O
presente trabalho utilizou a abordagem quantitativa com aplicação de
questionário, que continha cinco questões de múltipla escolha e uma aberta,
aplicado na biblioteca nos intervalos de aula. Foram distribuídos 200
questionários para os alunos dos cursos de medicina, enfermagem, farmácia e
fisioterapia, com retorno de 175 respondentes, e 25 questionários devolvidos
em branco.
Os resultados encontrados quando se perguntou com que
regularidade os discentes frequentam a biblioteca com a finalidade de estudar:
os discentes do curso de medicina, de 68 respondentes, 77,94% disseram que
frequentam com finalidade de estudo e 22,06 % relataram que não usam a
biblioteca para esta finalidade. Os discentes do curso de enfermagem, de 47
respondentes, 91,49% disseram que sim e 8,51 que não. Os discentes do curso de
fisioterapia, 92,16% relataram que sim e 7,84% que não. Os discentes do curso
de farmácia, 94,12% disseram que sim e 5,88% que não.
Dos 175 discentes que disseram
frequentar a biblioteca com a finalidade de estudo, 92% disseram que o barulho
atrapalha a concentração dos estudos e 8% disseram que não.
Com respeito à insatisfação dos
usuários em relação aos ruídos na biblioteca, os resultados mostram que em
primeiro lugar foi apontado pelos discentes a conversa paralela no ambiente da
biblioteca, com 38,46% (medicina), 21,54% (enfermagem), 27,69% (fisioterapia) e
12,31% (farmácia). Em segundo lugar foi apontado haver falta de cultura de silêncio
dentro da biblioteca, com 16,33% (medicina) 22,45 % (enfermagem), 36,73
(fisioterapia) e 24,49% (farmácia). Em terceiro lugar foi citado a instalação
da reprografia dentro da biblioteca por 23,53% (medicina) 35,29% (enfermagem),
11,76% (fisioterapia) e 29,41% (farmácia) como sendo o deflagrador de ruído no
ambiente. Em quarto lugar foram
apontados os ruídos internos (catraca, telefone, dentre outros) com 71,43%
(medicina), 14,29% (enfermagem.) e 14,29% (fisioterapia). Em quinto lugar foi
apontado a acústica arquitetônica do prédio da biblioteca como sendo
desfavorável, pois percebe-se que existe eco nas falas, aumentando
consideravelmente o ruído neste espaço, assim os percentuais são: de 33,33% (medicina),
16,37% (enfermagem) e 50 % (fisioterapia).
Alguns fatores foram citados
pelos usuários respondentes que utilizam alguns mecanismos para favorecer os
estudos, mesmo em ambiente considerado desfavorável. Entre esses mecanismos
estão os relacionados, em primeiro lugar, com 28,57% dos respondentes, a capacidade
de concentração total nos estudos mesmo em ambientes barulhentos. Em segundo
lugar, com 25%, a utilização de fone de ouvido que viabiliza o estudo dentro da
biblioteca, pois desliga o usuário dos ruídos a sua volta. Em terceiro lugar,
com 66,67% dos respondentes, a utilização da biblioteca em horários de menor
movimento, geralmente fora do horário de intervalos de aula.
Em relação à sugestão, dos 161
respondentes que relataram que o barulho atrapalha, 41 não deixaram sugestões.
As 120 sugestões relatadas estão demonstradas na tabela abaixo:
Tabela 1 - Sugestões
para melhorar o ambiente de estudo da biblioteca
Sugestões
|
Medicina
|
Enfermagem
|
Fisioterapia
|
Farmácia
|
Total
|
Retirar a
instalação do xerox de dentro da biblioteca
|
15
|
16
|
13
|
4
|
48
|
Promover
medidas educativas para diminuir as conversas paralelas no ambiente da
biblioteca
|
15
|
12
|
07
|
2
|
36
|
Criar
mecanismos de punição para coibir as conversas dentro da biblioteca
|
13
|
6
|
2
|
3
|
24
|
Outras
(diminuir ruídos dos telefones, catracas, estacionamento etc...)
|
5
|
2
|
2
|
3
|
12
|
Total
|
48
|
36
|
24
|
12
|
120
|
Fonte: A
Autora.
Considerações Finais
Os resultados deste estudo mostram que o silêncio na
biblioteca continua sendo uma necessidade e não apenas uma tradição datada dos
primórdios, onde a biblioteca era um local de absoluto silêncio. Assim, é preciso manter um espaço silencioso
e calmo, onde haja lugar para usuários que necessitam concentração e silêncio
para estudar. Porém, ficou comprovado também que os espaços de interação entre
usuários são importantes, tanto quanto, para os que precisam de silêncio como
para os que necessitam da interação como troca no processo de aprendizagem, só
que com novos parâmetros.
É evidente que atualmente os ambientes informacionais se
modernizaram, acompanharam a evolução, a adaptação aos
novos moldes de ensino e de transferência da informação, haja vista, os
diversos mecanismos existentes nestes ambientes (midiáticos, virtuais,
digitais, híbridos, dentre outros). Porém, seus espaços precisam ser
reavaliados; se queremos que os discentes frequentem a biblioteca, é preciso
prepará-los para isso.
Destacou-se também neste estudo o excessivo ruído dentro
da biblioteca. Preocupante quando 92% dos entrevistados disseram que o barulho
atrapalha a concentração nos estudos. Desse modo, é importante contextualizar a
satisfação do usuário dentro do espaço da biblioteca, onde os mesmos manifestaram
interesse em retirar a fotocopiadora de dentro da biblioteca, demonstrando
assim, que tão importante quanto os serviços e produtos oferecidos, são a aquisição
de materiais de informação, recursos tecnológicos e informatizados, espaços
adequados para estudos e ambiente para interação com seus pares, mas acima de
tudo, está em destaque o desejo de um ambiente saudável para estudo e leituras
para suas atividades em sua formação estudantil. Assim, entende-se que a biblioteca universitária necessita de
espaço para tornar-se ambiente propício a colaborar na aprendizagem do
estudante universitário.
Conclui-se que a construção e/ou adaptação de espaços
informacionais deve ser um espaço dinâmico, propício a satisfazer as
necessidades dos discentes como um todo. Um ambiente inclusivo, propício à
convivência entre diferentes classes sociais e grupos diversos, um espaço
democrático, que possibilite o acesso livre à informação, tanto por meios
tradicionais, como por meios tecnológicos e contemporâneos, favorecendo a
autonomia dos alunos, respeitando sua maneira de frequentar o ambiente da
biblioteca, promovendo assim sua participação e aprendizagem nos espaços
físicos das bibliotecas universitárias públicas brasileiras.
REFERÊNCIAS
MORIGI, V. J.; SOUTO, L. R. Entre o passado e o presente: as visões de
biblioteca no mundo contemporâneo. REV.
ACB: Biblioteconomia em
Santa Catarina , Florianópolis, v.10, n. 2, p.189-206,
jan./dez. 2005. Disponível em: http://revista.acbsc.org.br/racb/article/view/ 432/551.
Acesso em: 17 out. 2014.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA. A engenharia acústica. 2014. Disponível em:
http://www.eac.ufsm.br/home. Acesso em: 9 set. 2014.
Muito bom o art.
ResponderExcluirMuito interessante o artigo. Acredito ser importante chamar atenção para esse tema e incentivar a manutenção do silêncio dentro da biblioteca. Como o próprio artigo mostra, o silêncio é quase que essencial para o estudo. Se a universidade não tem condições de proporcionar espaços de interação para os alunos dentro da biblioteca, o que seria ideal, é necessário que haja outros espaços na universidade para isso, desde que, a biblioteca continue sendo um ambiente capaz de oferecer aos estudantes, professores e funcionários, um lugar moderno e dedicado para seus estudos e trabalho.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEu gostei do artigo, sugeriria que a pesquisa fosse feita com discentes de diferentes áreas do conhecimento a não ser da área da saúde, tipo tecnologia, design, artes, historia e matemática
ResponderExcluirdessa forma poderia se ter outros dados relevantes, mas vejo o esforço na pesquisa.
Destaco. "Conclui-se que a construção e/ou adaptação de espaços informacionais deve ser um espaço dinâmico, propício a satisfazer as necessidades dos discentes como um todo." e concordo com a complexabilidade da de necessidades fisico-construtivas da biblioteca.
Muito interessante o artigo, principalmente no que remete à arquitetura sobre a necessidade de projetar-se espaços adequados às diversas atividades desenvolvidas dentro da biblioteca e também em relação a acústica tanto dos materiais empregados na construção do edifício quanto aos aplicados no mobiliário.
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