17 de jan. de 2018

PERIÓDICOS CIENTÍFICOS ELETRÔNICOS: ALGUMAS ABORDAGENS

Geneviane Duarte Dias
Bibliotecária da Divisão de Formação e
Desenvolvimento da Coleção do Sistema de Bibliotecas da UEL.

              Os periódicos científicos vêm enfrentando alguns problemas, tais como o aumento considerável dos preços e dos títulos existentes. Inicialmente essas eram preocupações somente dos bibliotecários. Porém, durante a década de 1990, essa situação preocupante estendeu-se também entre os autores e os editores das revistas. No entanto, o crescimento da comunicação eletrônica na década passada tem sugerido ao mundo acadêmico que este modelo de publicação de periódicos científicos pode reduzir os custos consideravelmente. É razoável supor que o advento da internet e o crescimento das publicações eletrônicas promoveram a disseminação científica em grande escala, facilitando a transferência de artigos e arquivos via correio eletrônico e provocando alterações significativas nas atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação (MEADOWS, 2011).
              Considerando, principalmente, o cenário nacional pouco favorável em virtude de escassez de recursos financeiros, os periódicos eletrônicos se apresentam como uma solução para a continuidade do conhecimento científico, proporcionando maior abertura, rapidez no alcance dos artigos com custos mínimos e possibilidades de impressão de cópias imediatas dos artigos. Em decorrência da migração do suporte impresso para o eletrônico, são solucionados alguns desses problemas relacionados à publicação e à manutenção dos periódicos. Sendo assim, outras questões passam a atribuir maior influência, tais como visibilidade, recuperação e armazenamento de arquivos (SARMENTO; SOUZA, 2002).
              O desenvolvimento das publicações eletrônicas pode ser dividido em quatro etapas. Na primeira ocorre o uso de computadores para gerar a publicação impressa (processadores de texto, editoração eletrônica). Na segunda etapa o texto passa a ser distribuído em formato eletrônico, além da versão equivalente impressa. Na terceira etapa a publicação eletrônica ainda apresenta o formato da impressa, porém agrega algumas características adicionais, como possibilidade de pesquisa, produção de metadados e serviços de alerta. Finalmente, na quarta etapa, as publicações são elaboradas já voltadas para o formato eletrônico, explorando potencialmente todos os recursos disponíveis (hiperlink, hipertexto, som, movimento, entre outros) (LANCASTER, 1995).
              Mesmo no panorama dos periódicos eletrônicos, os custos ainda são um dos temas mais debatidos. Variações em sua concepção e manutenção podem gerar custos de produção diferentes. Os periódicos eletrônicos podem ser menos dispendiosos, variando de 70% a 90% em relação à publicação impressa. Isso ocorre porque nas publicações em formato eletrônico (somente em formato eletrônico) incidem apenas os custos relativos à revisão pelos pares e à edição de texto. No entanto, o custo real de um periódico eletrônico irá depender do tipo de documento de codificação que será utilizado. Existe uma tendência em produzir os artigos de periódicos eletrônicos em múltiplos formatos. Isso para garantir que os usuários potenciais tenham acesso a um formato que seus computadores possam suportar (HARNAD, 1995; HOLOVIAK; SEITTER, 1997, tradução nossa).
              Os custos das publicações periódicas estão intimamente relacionados com os custos de produção. Porém, os críticos dos periódicos científicos têm observado que alguns editores comerciais parecem acrescentar um lucro substancial ao definir os preços das assinaturas. No caso de periódicos impressos, o assinante paga por uma cópia do periódico e o seu acesso torna-se perpétuo. Após o recebimento e o armazenamento, podem emprestá-lo e ler os artigos por um período ilimitado. No caso de periódicos eletrônicos, os assinantes estão pagando pelo acesso e não a posse. Após a expiração da sua assinatura, o acesso ao periódico original é perdido, a menos que a renovação da assinatura seja efetuada (KLING; CALLAHAN, 2003, tradução nossa).
              Os periódicos científicos eletrônicos apresentam diferenciais relevantes, tais como a velocidade de disponibilização permitindo maior agilidade na busca pela informação, a eliminação de barreiras geográficas e o acesso gratuito a centenas de documentos. Porém, a publicação eletrônica por si só não tem validade científica. Antes, deve ser julgada pelos mesmos critérios e padrões de avaliação utilizados nas publicações impressas, ou seja, política da revista, avaliação, reconhecimento e aceitação pelos seus pares (BOMFÁ, 2009).  
              A publicação eletrônica está sendo adotada também como uma alternativa aos autores que são incapazes ou não querem depender totalmente da indústria editorial. Todos os sistemas, inclusive o eletrônico, dependem das habilidades editoriais para que suas publicações tenham êxito e sejam bem-sucedidas. Apesar das alterações nos suportes, as forças do mercado editorial continuam exercendo um controle significativo sobre o sistema formal de comunicação científica (ALONSO-ARÉVALO, 2004, tradução nossa).
              O meio eletrônico oferece potencial intelectual e vantagens econômicas sobre as revistas em papel, uma vez que os artigos estão disponíveis integralmente e ao mesmo tempo para leitores de todo o mundo. Após sua aceitação, um artigo pode se tornar disponível rapidamente e ser acessado muito antes da versão impressa. Porém as barreiras econômicas podem ser um agravante. Caso o avanço editorial atenha-se somente às publicações eletrônicas, uma grande parte da população mundial, principalmente os países em desenvolvimento, pode ser excluída do acesso às publicações por razões puramente econômicas. Outro aspecto é a dificuldade de proteção da integridade das informações em periódicos eletrônicos, bem como a dificuldade de armazenamento e manutenção dessas publicações (HÖÖK, 1999, tradução nossa).
              Para as bibliotecas, a transição dos periódicos científicos para a versão eletrônica apresenta uma série de críticas e perguntas e que essa discussão tem sido alvo de muitos estudiosos. Essas ansiedades podem ser resumidas por meio dos seguintes questionamentos:
a)     Será que a versão eletrônica do periódico custa mais ou menos do que a versão em papel?
b)     Quais serão os termos de licenciamento e quem irá negociá-los?
c)      Com qual rapidez eu devo fazer a transição para periódicos eletrônicos?
d)     Devo interromper a minha assinatura de periódicos impressos?
e)     Quais serviços os periódicos eletrônicos irão me fornecer que sejam relevantes para os meus usuários?
f)       Será que vou ser capaz de selecionar os periódicos que eu quero inserir em minha coleção ou será que os periódicos serão agrupados pelo editor de origem?
g)     Como será a integração do periódico eletrônico em meu catálogo local e em outros serviços de referência, como por exemplo, as bases de dados bibliográficas?
              Este estudo pode ser lido na integra no trabalho denominado Organização Temática da Informação em Periódicos Científicos Eletrônicos desenvolvido na linha de pesquisa Organização e Representação da Informação e do Conhecimento do Programa de Mestrado Profissional da Universidade Estadual de Londrina.

REFERÊNCIAS

ALONSO-ARÉVALO, J. Comunicación científica y edición alternativa: visibilidad y fuentes de información en ByD. 2004. Disponível em: http://eprints.rclis.org/ handle/10760/6855#.TslNVOzIiSo. Acesso em: 7 set. 2011.
BOMFÁ, C.R.Z. Modelo de gestão de periódicos científicos eletrônicos com foco na promoção da visibilidade. 2009. 238 f. Tese (Doutorado em Gestão do Processo Editorial) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2009. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/ download/texto/cp122272.pdf. Acesso em: 1 nov. 2011.
HARNAD, S. Electronic scholarly publication: quo vadis? Ser. rev., New York, v. 21, n. 1, p. 78-80. 1995. Disponível em: http://cogprints.org/1691/1/harnad95.quo. vadis.html. Acesso em: 5 nov. 2011.
HOLOVIAK, J.; SEITTER, K. Hearth interactions: transcending the limitations of the printed page. Journal of Electronic Publishing, Michigan, v. 3, n. 1, jun. 1997. Disponível em: http://hdl.handle.net/2027/spo.3336451.0003.102. Acesso em: 2 set. 2011.
HÖÖK, O. Scientific communications: history, electronic journals and impact factors. Scand J Rehab Med., Uppsala, Sweden, v. 31, n. 1, p. 3-7, 1999. Disponível em:
http://link.periodicos.capes.gov.br.ez78.periodicos.capes.gov.br/sfxlcl3?url_ver=Z39.88-2004&url_ctx_fmt=infofi/fmt:kev:mtx:ctx&ctx_enc=info:ofi/enc:UTF-8&ctx_ver=Z39.88-2004&rfr_id=info:sid/sfxit.com:azlist&sfx.ignore_date_threshold= 1&rft.object_id= 95492 5442620.
Acesso em: 11 nov. 2011.
KLING, R.; CALLAHAN, E. Electronic journals, the internet, and scholarly communication. Annu. Rev. Inf. Sci. Technol., New York, v. 37, n. 1, p. 127-177. 2003.
LANCASTER, F. W. The evolution of electronic publishing. Libr. trends, Champaign, v. 43, n. 4, p.713-740, spring 1995.
MEADOWS, A.J.  Os periódicos científicos e a transição do meio impresso para o eletrônico. Rev. bibli. Brasília, v. 25, n. 1, p. 5-14, jan./jun. 2001. Disponível em: http://www.brapci. ufpr.br/documento.php?dd0= 0000000635&dd1=76c53. Acesso em: 10 nov. 2011.
SARMENTO E SOUZA, M. F. Periódicos científicos eletrônicos: apresentação de modelo para análise de estrutura. 2002. 142 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista, Marília, 2002. Disponível em: http://www.athena.biblioteca.unesp.br/exlibris/bd/bma/ 33004110043P4/2002/ sarmentoesouza_mfs_me_mar.pdf. Acesso em: 10 nov. 2011.

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