TUDO QUE É LÍQUIDO
SE DESMANCHA NO AR?
Ivana
Lioti
Bibliotecária da Divisão de Processos Técnicos/SBUEL.
Fonte: Google images, (2017). |
Nas últimas décadas, a sociedade moderna
vem passando por mudanças econômicas, sociais e culturais em um ritmo cada vez
mais intenso. Antigamente, os conceitos
transformavam-se de uma maneira mais lenta e previsível, o que conferia certa
segurança aos indivíduos e a noção de um controle sobre o mundo. A partir da
segunda metade do século XX, graças aos vertiginosos avanços tecnológicos, o
ritmo de mudanças foi aumentando cada vez mais e hoje percebe-se o declínio da chamada
era sólida da modernidade.
Zygmunt Bauman, um sociólogo polonês, cunhou
o termo “modernidade líquida” para caracterizar a sociedade atual. O termo
usado por Bauman faz referência a fluidez de um líquido, pois o líquido não
conserva sua forma por muito tempo
A Modernidade Líquida é fluida,
caracteriza-se pela constante mudança, sem ter previsão de término, ou seja, as
instituições, referências, estilos de vida e até mesmo crenças e convicções
assumem essa fluidez e mudam antes de terem tempo de se solidificar em costumes
e hábitos. A sociedade atual nos impõe mudanças o tempo todo, em curtos espaços
de tempo, não sendo possível consolidar rotinas, hábitos, virtudes, valores ou
formas de agir do indivíduo.
O moderno “líquido” traz uma idéia de que
os objetos originais ou concretos podem ser substituídos por figuras virtuais, ou
seja, as realidades virtuais. Assim, é comum a preferência do sujeito social
pela imagem em detrimento do objeto real. Como exemplo disso vemos que hoje em
dia as pessoas não revelam mais fotografias (objeto real); tudo está on line,
nas redes sociais. Apesar dos indivíduos estarem cada vez mais conectados e
informados por meio dos aparatos tecnológicos, existe uma carência de vínculos,
comprometimentos e solidez da informação obtida, tudo é muito descartável. O
mundo contemporâneo está cada vez mais dinâmico, fluido e veloz. Torna-se
difícil imaginar a vida sem Internet e celular. A informação está ao alcance da
mão, em qualquer lugar que estejamos.
O meio eletrônico e online dominam a
preferência em detrimento dos meios mais convencionais, por sua rapidez e
comodidade. Por causa desse contingente informacional, o indivíduo enfrenta um
problema sem precedentes na história, a dificuldade em filtrar as informações
pertinentes e confiáveis que venham realmente a se internalizar e transformar dados
informacionais em conhecimento real. Torna-se também difícil avaliar a
qualidade e veracidade de tal montante de informações acessadas. Isso pode
criar um paradoxo: quanto mais informação, menos conhecimento?
Houve um tempo em que se acreditava que a
quantidade de informação estaria diretamente proporcional a maior criação de
conhecimento. Mas percebe-se, hoje, exatamente o contrário, a informação está
disponível de tal forma e tal quantidade que dificulta a capacidade assimilação
e entendimento e isso interfere negativamente na produção de conhecimento.
Bauman aponta o Google como sendo a maior
biblioteca do mundo, mas é um acervo de trechos, de partes e pedaços
desconectados. Por isso o autor faz uma crítica a quantidade em detrimento da
qualidade informacional.
As formas de aprendizagem, de buscar
informação, atualmente são muito diferentes. Por exemplo: quem usa dicionário? Quem
consulta uma enciclopédia? Quem tem caderno de receitas? Quem tem agenda
telefônica ou de compromissos? Quem tem álbum de fotografias? Quem tem coleção
de CDs ou DVDs? Ora, certamente os mais os jovens não têm. Os indivíduos contam
com outros meios de armazenar informações e acessá-las. A humanidade conta,
hoje, com um acesso extremamente amplo a todo tipo de documentos e registros de
conhecimento, do passado e do presente. Diante desse cenário, como a biblioteca
como centro de informações vai se posicionar? Muita coisa já mudou nos
ambientes de biblioteca com relação aos meios de disponibilizar e acessar a
informação, mas são mudanças lentas e tímidas se comparadas à velocidade em que
ocorrem as mudanças de comportamento dos usuários de informação. Diante de
tantas possibilidades, como filtrar a informação relevante a cada público? A
biblioteca e o profissional bibliotecário estão capacitados para continuar agindo
como mediadores da informação? Há muitas perguntas e poucas certezas. Mas uma
coisa é certa: os indivíduos nunca estiveram tão perdidos como encontram-se
agora nesta “Modernidade Líquida”, sem saber o quão verdadeiro ou falso pode
ser o contingente de informação que recebem a todo momento. Hora de criar novas
práticas e fazeres para lidar com novas situações. Quem vai se habilitar?
REFERÊNCIAS
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Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
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Cássia Cristina; MAIO, Eliane Rose. Educação na Modernidade Líquida: Entre
tensões e desafios. Mediações: Revista de Ciências Sociais, v.21, n.2, 2016.
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líquida: revisão teórica e implicações para a prática de vida. Cadernos Zygmunt
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Edna Lúcia da.; LOPES, Marili Isensee. A internet, a mediação e a
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Acesso em; 2 set. 2017.
TANUS,
Gabrielle Francinne de S. C. Enlace entre os estudos de usuários e os
paradigmas da ciência da informação: de usuário a sujeitos pós-modernos; Revista
Brasileira de Biblioteconomia e Documentação. São Paulo, v. 10, n. 2, p.
144-173, jul./dez. 2014.
Parabéns, muito bom artigo, ótima contribuição para nós usuários de informação com credibilidade.
ResponderExcluirObrigada Rosangela!
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