19 de set. de 2017

TUDO QUE É LÍQUIDO SE DESMANCHA NO AR?
Ivana Lioti
Bibliotecária da Divisão de Processos Técnicos/SBUEL.


Fonte: Google images, (2017).
Nas últimas décadas, a sociedade moderna vem passando por mudanças econômicas, sociais e culturais em um ritmo cada vez mais intenso. Antigamente, os conceitos transformavam-se de uma maneira mais lenta e previsível, o que conferia certa segurança aos indivíduos e a noção de um controle sobre o mundo. A partir da segunda metade do século XX, graças aos vertiginosos avanços tecnológicos, o ritmo de mudanças foi aumentando cada vez mais e hoje percebe-se o declínio da chamada era sólida da modernidade.
Zygmunt Bauman, um sociólogo polonês, cunhou o termo “modernidade líquida” para caracterizar a sociedade atual. O termo usado por Bauman faz referência a fluidez de um líquido, pois o líquido não conserva sua forma por muito tempo
A Modernidade Líquida é fluida, caracteriza-se pela constante mudança, sem ter previsão de término, ou seja, as instituições, referências, estilos de vida e até mesmo crenças e convicções assumem essa fluidez e mudam antes de terem tempo de se solidificar em costumes e hábitos. A sociedade atual nos impõe mudanças o tempo todo, em curtos espaços de tempo, não sendo possível consolidar rotinas, hábitos, virtudes, valores ou formas de agir do indivíduo.
O moderno “líquido” traz uma idéia de que os objetos originais ou concretos podem ser substituídos por figuras virtuais, ou seja, as realidades virtuais. Assim, é comum a preferência do sujeito social pela imagem em detrimento do objeto real. Como exemplo disso vemos que hoje em dia as pessoas não revelam mais fotografias (objeto real); tudo está on line, nas redes sociais. Apesar dos indivíduos estarem cada vez mais conectados e informados por meio dos aparatos tecnológicos, existe uma carência de vínculos, comprometimentos e solidez da informação obtida, tudo é muito descartável. O mundo contemporâneo está cada vez mais dinâmico, fluido e veloz. Torna-se difícil imaginar a vida sem Internet e celular. A informação está ao alcance da mão, em qualquer lugar que estejamos.
O meio eletrônico e online dominam a preferência em detrimento dos meios mais convencionais, por sua rapidez e comodidade. Por causa desse contingente informacional, o indivíduo enfrenta um problema sem precedentes na história, a dificuldade em filtrar as informações pertinentes e confiáveis que venham realmente a se internalizar e transformar dados informacionais em conhecimento real. Torna-se também difícil avaliar a qualidade e veracidade de tal montante de informações acessadas. Isso pode criar um paradoxo: quanto mais informação, menos conhecimento?
Houve um tempo em que se acreditava que a quantidade de informação estaria diretamente proporcional a maior criação de conhecimento. Mas percebe-se, hoje, exatamente o contrário, a informação está disponível de tal forma e tal quantidade que dificulta a capacidade assimilação e entendimento e isso interfere negativamente na produção de conhecimento.
Bauman aponta o Google como sendo a maior biblioteca do mundo, mas é um acervo de trechos, de partes e pedaços desconectados. Por isso o autor faz uma crítica a quantidade em detrimento da qualidade informacional.
As formas de aprendizagem, de buscar informação, atualmente são muito diferentes. Por exemplo: quem usa dicionário? Quem consulta uma enciclopédia? Quem tem caderno de receitas? Quem tem agenda telefônica ou de compromissos? Quem tem álbum de fotografias? Quem tem coleção de CDs ou DVDs? Ora, certamente os mais os jovens não têm. Os indivíduos contam com outros meios de armazenar informações e acessá-las. A humanidade conta, hoje, com um acesso extremamente amplo a todo tipo de documentos e registros de conhecimento, do passado e do presente. Diante desse cenário, como a biblioteca como centro de informações vai se posicionar? Muita coisa já mudou nos ambientes de biblioteca com relação aos meios de disponibilizar e acessar a informação, mas são mudanças lentas e tímidas se comparadas à velocidade em que ocorrem as mudanças de comportamento dos usuários de informação. Diante de tantas possibilidades, como filtrar a informação relevante a cada público? A biblioteca e o profissional bibliotecário estão capacitados para continuar agindo como mediadores da informação? Há muitas perguntas e poucas certezas. Mas uma coisa é certa: os indivíduos nunca estiveram tão perdidos como encontram-se agora nesta “Modernidade Líquida”, sem saber o quão verdadeiro ou falso pode ser o contingente de informação que recebem a todo momento. Hora de criar novas práticas e fazeres para lidar com novas situações. Quem vai se habilitar?

REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
FURLAN, Cássia Cristina; MAIO, Eliane Rose. Educação na Modernidade Líquida: Entre tensões e desafios. Mediações: Revista de Ciências Sociais, v.21, n.2, 2016. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article/view/27999/pdf. Acesso em: 2 set. 2017.
HAROCHE, Claudine. O sujeito diante da aceleração e da ilimitação contemporânea. Educação e Pesquisa, v. 41, n. 4, 2015. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-97022015000400851&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 2 set. 2017.
SANTOS, Guilherme Ferreira; SILVA, Otávio Guimarães Tavares da. Conceito de modernidade líquida: revisão teórica e implicações para a prática de vida. Cadernos Zygmunt Bauman, v. 3, n. 5, 2013. Disponível em: http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/bauman/article/view/1490. Acesso em 2 set. 2017.
SILVA, Edna Lúcia da.; LOPES, Marili Isensee. A internet, a mediação e a desintermediação da informação. DataGramaZero, v. 12, n. 2, 2011. Disponível em: http://www.brapci.ufpr.br/brapci/index.php/article/view/0000010071/d186d855b6d8bc8b8ff282be1ba2bdcc. Acesso em; 2 set. 2017.

TANUS, Gabrielle Francinne de S. C. Enlace entre os estudos de usuários e os paradigmas da ciência da informação: de usuário a sujeitos pós-modernos; Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação. São Paulo, v. 10, n. 2, p. 144-173, jul./dez. 2014. 

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