EMPREENDEDORISMO:
um estudo de caso no Sistema de Bibliotecas da Universidade Estadual de Londrina
(SB/UEL)
Postado por:
Osny Francisco Terciotti
Bibliotecário
responsável pela Divisão de Circulação do SB/UEL
Rosangela Moreira Lima
Bibliotecária da
Divisão de Processos Técnicos do SB/UEL
O discurso de muitos profissionais defende
que o bibliotecário deve adequar seu perfil às necessidades atuais, agindo e
pensando por si de forma criativa, preditiva e com liderança e atuando como empreendedor.
Pressupõe que ele tenha capacidade de delegar, que procure constante inovação,
que se adapte facilmente a mudanças e que tenha capacidade de decisão rápida e
objetiva (DRUCKER, 1987).
Neste artigo, delinear-se-á um perfil
empreendedor com a aplicação de ideias inovadoras a uma realidade comum e
característica do contexto em questão, pois tem-se uma realidade em que
diversos materiais como livros e documentos estão propensos às deteriorações e
danos causados pelo descuido dos usuários, manipulação inadequada, vandalismo.
Portanto, precisa-se desenvolver meios de preservar aquilo que já se tem e que
é tão característico das bibliotecas.
O termo empreendedorismo, originado na
França, século XII, denominava originalmente os coordenadores das operações
militares. Conforme Dornelas (2005), a definição de empreendedor aparece
atrelada à ideia de inovação, desde a introdução de novos produtos e serviços
até a criação de novas formas de organização, ou ainda, pela exploração de
novos recursos e materiais. Valle e Santos (2004)
destacam que no campo da Biblioteconomia as ideias empreendedoras têm ganhado
força, por meio da gestão que focaliza a inserção da criatividade, o que gera , conseqüentemente,
inovação. O empreendedorismo nesse campo parte de informações que necessitam e
podem ser transformadas em produtos ou serviços.
Conforme Honesko (2002) os profissionais
que atuam em bibliotecas universitárias paranaenses, demonstraram conhecimento
teórico sobre o empreendedorismo e entendimento da importância de uma gestão
empreendedora em bibliotecas. Contudo, esses profissionais ainda não colocam em
prática ações empreendedoras, pois aliam essa prática a avanços tecnológicos e
novidades. Resende (2006, p.35) considera que empreender não se trata
unicamente de inovação no sentido de criação de produtos e serviços novos, mas
pode ser aplicado também à renovação e aprimoramento de situações já
existentes.
O Sistema de Bibliotecas da UEL tem como “missão promover o
acesso, a recuperação e a transferência da informação para toda a comunidade
universitária, de forma atualizada, ágil e qualificada” [...] (UEL, 2009, p.1).
A circulação de materiais de informação,
conforme argumenta Rowley (1994), relaciona-se a uma das funções intrínsecas à
biblioteca: a disponibilização dos documentos. Para
essa autora, os usuários devem ter acesso ao acervo imediatamente ou o mais
rápido possível após se expressar uma demanda. Nesse sentido, a Divisão de
Circulação da Biblioteca Central da UEL tem como missão: Recuperar, disseminar
a informação, disponibilizar o material bibliográfico para consulta e
empréstimo, dando suporte ao ensino e pesquisa [...], bem como restaurar os
materiais bibliográficos para que os mesmos possam retornar ao acervo e serem
disponibilizados novamente para uso. (BIBLIOTECA CENTRAL, 2003, p.1).
Nesse artigo o foco é o trabalho realizado
pela Oficina de Encadernação, na Biblioteca Central da Universidade Estadual de
Londrina, relatado doravante como
BC /UEL.
Nesse contexto, entra o presente objeto de
estudo: a Oficina de Encadernação da BC/UEL. Os primeiros registros encontrados
sobre recuperação de documentos na BC/UEL datam de 1983, quando a Divisão de
Processos Técnicos iniciou a estruturação da Oficina de Encadernação, com o
objetivo de restaurar e/ou encadernar todo o material danificado da biblioteca.
Esse serviço contava com a colaboração de uma auxiliar de biblioteca. A oficina
ocupava uma área junto à Divisão de Processos Técnicos.
O volume de livros para restauração crescia
a cada ano e em 1985 já havia uma pendência de 875 volumes aguardando encadernação/restauração.
Em 1986 a
oficina foi transferida para uma sala do piso inferior da biblioteca, pois não
havia mais espaço para guardar os livros danificados. A oficina passou a ter
outros problemas: além do acúmulo de livros pendentes, havia somente um
funcionário que executava o serviço de encadernação para tamanha demanda.
No final de 1992, já havia um acúmulo de mais de 4.500 livros à espera
de restauração/encadernação. Como
alternativa para diminuir a quantidade de livros na oficina, em 1993 o Sistema
de Bibliotecas realizou a campanha “Adote um livro”, que propiciou a
restauração de 2.070 volumes com o patrocínio de empresas externas. Em 1994
houve a contratação de outro restaurador bibliográfico, passando a oficina a
contar com dois servidores no seu quadro funcional.
Até 1999 o serviço de encadernação foi realizado por dois servidores e,
eventualmente, com recursos do Sistema de Bibliotecas para a terceirização
deste serviço (encadernação externa); porém, devido à demanda de uso da coleção
o serviço de encadernação sempre aumentou, ocorrendo o acúmulo de livros
aguardando reparos/conserto.
Em 2000, por meio de convênio de prestação de serviço firmado entre a
UEL/Biblioteca Central e a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da Universidade
Estadual de Londrina (FAUEL), ficou acordado que parte da receita arrecadada
com as multas seria destinada para a preservação do acervo. Até a presente data
o Sistema de Bibliotecas utiliza este recurso para recuperar os livros
danificados e, concomitantemente, executa o serviço na oficina por um
funcionário.
É importante destacar também que quando se
corre um risco calculado, ou seja, quando se está empreendendo, é comum agir de
forma a executar melhor as coisas, mais rapidamente ou mais barato. Restaurar
um livro fica mais barato que a compra de um novo exemplar, poupando-se, além
de dinheiro, tempo, visto que o livro volta às
estantes mais rapidamente, evitando-se pedidos de compra, licitações, entre
outros entraves burocráticos. Por fim, a publicação pode estar esgotada,
impedindo a compra de um novo exemplar, sendo esta mais uma vantagem da
restauração.
Outra atitude empreendedora é a utilização
de pessoas-chave como
agentes para atingir seus próprios objetivos. A biblioteca fez isso, quando
terceirizou o serviço de restauração utilizando a receita obtida com as multas
por atraso, solucionando, assim, a escassez de mão de obra, visto que os dois
restauradores não estavam dando vazão à quantidade de material a ser
restaurado. Dessa forma, manter a quantidade e a qualidade do acervo é
primordial para a Instituição. Nesse sentido, o empreendimento exposto neste
trabalho restaurou e vem restaurando não só obras do acervo, mas também formas
de ver o trabalho, o papel dos colaboradores, a importância da inovação.
A seguir, apresenta-se no quadro 1, um
comparativo do volume de material encadernado no período de 1983 a 1999 e a partir de
2000 até 2014, com recursos destinados à recuperação de livros proveniente de
multa de usuários.
Quadro 1 – Volume de material
encadernado
Período
|
Livros Encadernados/Restaurados pelo Sistema de Bibliotecas da UEL
|
Média de Livros Encadernados por Ano
|
|
12.327
|
725
|
|
35.075
|
2.338
|
Fonte: BC/UEL
Neste quadro observa-se
que a quantidade de livros recuperados por ano até 1999 era de aproximadamente
725 volumes. Com o uso dos recursos
financeiros a partir do ano de 2000,
a média passou a ser de 2.338 volumes por ano, ratificando
a essência do empreendedorismo em bibliotecas.
REFERÊNCIAS
BIBLIOTECA
CENTRAL. Divisão de Circulação. Relatório de atividades: 2002. Londrina, 2003.
DORNELAS,
J. C. A. Empreendedorismo:
transformando ideias em negócios. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
DRUCKER,
P. Inovação e espírito empreendedor
(entrepreneurship): práticas e princípios. 5. ed.
São Paulo :
Pioneira, 1987.
HONESKO,
A. Empreendedorismo em bibliotecas universitárias. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE
BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS, 12., 2002, Recife. Anais... Recife: Ed. da Universidade Federal de Pernambuco, 2002.
RESENDE,
J. B. O bibliotecário empreendedor e o mercado de informação no Distrito
Federal. 2006. Monografia
(Curso de Bacharelado em Biblioteconomia) – Universidade de Brasília, Brasília.
Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp.
Acesso em: 20 set. 2009.
ROWLEY,
J. Informática para bibliotecas. Brasília: Briquet de Lemos, 1994.
UNIVERSIDADE
ESTADUAL DE LONDRINA .
Sistema de Bibliotecas. Histórico - missão. Disponível em: http://www.uel.br/bc.
Acesso em: 20 set. 2009.
VALLE,
L. M. B.; SANTOS ,
R. Reunião nacional de bibliotecas
biomédicas e especializada em odontologia: uma experiência. 2004. Disponível em: http://www.ndc.uff.br/textos/luciana_valle_reuniao.pdf. Acesso em: 15 nov. 2009.
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